Paternidade não é ajuda – é responsabilidade. E não merece aplausos por cumprir o mínimo.

A sociedade ainda trata a paternidade ativa como exceção — como se fosse um favor que o homem faz à mãe e ao filho.
Mas vamos deixar claro: pai que participa não é herói. É pai.

PAPO RETO - DE MAMI PRA MAMI

5/21/20252 min read

man in black leather jacket carrying boy in black leather jacket
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“Que paizão! Ele trocou uma fralda!”
“Uau, levou o filho na consulta médica. Que exemplo!”
“Parabéns por cuidar da própria criança!”

Você já ouviu isso. Provavelmente já viu acontecer.
A sociedade ainda trata a paternidade ativa como exceção — como se fosse um favor que o homem faz à mãe e ao filho.
Mas vamos deixar claro: pai que participa não é herói. É pai.

Ser pai é um papel ativo, afetivo, presente e contínuo.

Pai que é pai educa, embala, acolhe, acorda de madrugada, leva na escola, participa da introdução alimentar, limpa o cocô, ouve a birra, dá limite, dá colo, conversa sobre medo, sobre corpo, sobre sentimento.

Pai que é pai não “ajuda” — ele assume.
Ele divide. Ele compartilha. Ele é referência emocional e estrutura.

O problema é que o mundo ainda normaliza a ausência paterna.

Segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), cerca de 5,5 milhões de crianças brasileiras não têm o nome do pai no registro de nascimento. Isso mesmo: milhões de crianças sem sequer esse direito básico garantido.

E segundo o IBGE, em 2022, mais de 11 milhões de lares eram chefiados por mulheres solo. A maioria delas, mães que não puderam contar com o apoio do pai dos filhos — nem emocional, nem financeiro, nem afetivo.

Enquanto isso, o pai que busca o filho na escola “sozinho” recebe olhares de aplauso.
A régua é muito diferente.

Mas e os pais que fazem a sua parte? Eles não merecem reconhecimento?

Merecem sim — como toda pessoa que cuida com presença, respeito e entrega.
Mas é diferente de glamourizar o básico.

Porque quando a mãe sai pra trabalhar com o bebê doente, ninguém diz “nossa, guerreira!”.
Quando ela dorme 3 horas por noite e vai trabalhar, ninguém faz um post no Instagram.

Então sim, pais presentes devem ser valorizados — mas como referência e não como exceção.

A paternidade precisa ser normalizada, não exaltada.

Quando a gente trata como “grande coisa” um pai que leva o filho ao parquinho, a gente enfraquece o conceito de responsabilidade paterna.
E pior: a gente joga ainda mais peso nas costas das mães.

Já passou da hora de transformar a paternidade em algo comum, esperado, cobrado, exigido — como a maternidade sempre foi.

Porque toda criança tem direito a um pai. Não um visitante. Um pai.

Pai presente desde a barriga.
Pai que vai às consultas. Que escuta. Que lê livro sobre criação. Que pesquisa vacina.
Pai que troca fralda sem ser pedido. Que não “faz favor” — faz parte.

Pai que está disposto a aprender, errar, ajustar.
Pai que entende que sua presença forma caráter, afeto e segurança emocional.

E pra quem é esse texto?

Pra todos.
Pra pais que ainda estão começando e querem fazer diferente.
Pra quem acha que presença é opcional.
Pra quem romantiza o pai que “ajuda”.
E pra quem, como você, carrega nas costas o que era pra ser dividido.