E quando engravidar não acontece?

“Vai acontecer quando você relaxar.” “Deus sabe a hora certa.” “Você já tentou chá de inhame?” “Talvez não seja pra ser.” Ela já ouviu todas essas frases. E nenhuma delas ajudou.

RELATOS

4/25/20252 min read

a woman sits on the end of a dock during daytime staring across a lake
a woman sits on the end of a dock during daytime staring across a lake
Camila tinha 32 anos quando decidiu que queria tentar.

Parou o anticoncepcional, marcou consulta, fez todos os exames.

Tudo dentro do esperado. O médico disse: “em até um ano é provável que aconteça”.

E ela acreditou.

Nos primeiros três meses, foi leve. Um frio na barriga gostoso, expectativas, vontade de descobrir o novo.
Do quarto ao sexto, começou a ansiedade. Testes de farmácia, planilhas de período fértil, sintomas que vinham e iam.
Do sétimo ao décimo, as lágrimas vinham junto com a menstruação. Como se cada ciclo fosse uma despedida de um bebê que nem existia.
No décimo primeiro mês, ela parou de contar.

Camila não queria que o mundo parasse por causa disso. Mas também doía que o mundo seguisse como se ela não estivesse em luto todo mês.
Era difícil ir em chá de bebê. Difícil ver o positivo das amigas. Difícil não se culpar. Difícil não se comparar.
Ela se sentia quebrada, mesmo sem diagnóstico algum.

Um ano e meio depois, Camila ainda não tinha engravidado.

Mas ela tinha aprendido algumas coisas:
Que é possível desejar muito algo e, ainda assim, não controlar o tempo dele.

Que dor não se compara.
Que tentar engravidar e não conseguir também é uma forma de ser mãe: é gestar o desejo, o cuidado, o amor — mesmo sem barriga.

Camila segue tentando. Um dia de cada vez.
E nesse meio tempo, ela decidiu fazer um blog anônimo pra contar o que vivia. Pra transformar dor em palavra, solidão em conexão.

Talvez você tenha encontrado esse texto por causa desse blog.

E se for o caso, ela te mandaria um abraço. E diria que não importa o que o mundo ache, você merece ser cuidada, escutada e respeitada. Mesmo sem positivo.

Esse texto é uma ficção baseada em histórias reais
E como sempre, eu não sou médica nem especialista. Só uma mulher tentando fazer do e aí, mami um lugar de verdade e acolhimento pra quem vive a maternidade — ou o desejo dela.